Para o primeiro número da Dicta traremos um Especial e tanto: ao longo das próximas semanas, sempre às terças-feiras, postarei aqui as gravações das três últimas aulas do Bruno Tolentino, que deram origem ao ensaio Do Enigma ao Mistério, editado por mim e publicado na revista impressa.
Jamais aceitaria fazer a edição que vai na revista se não pudesse também divulgar o material bruto. Foi uma decisão muito difícil editar o que vocês ouvirão a partir da próxima semana. Da morte do Bruno ao dia em que recebi a versão final do texto, estes versos do Auden em memória de W. B. Yeats martelavam na minha cabeça: the words of a dead man/ are modified in the guts of the living.
Como transformar em texto escrito três aulas completamente diferentes? Que critérios usar para cortar uma passagem? Reescrever o que está confuso ou manter a confusão? Foram algumas perguntas que me fiz, e pretendo contar como cheguei às respostas. Porque o trabalho não foi pequeno, pelo contrário: as 14 páginas da revista foram tiradas de quase 40 de transcrição. Procurei justificar (para mim mesmo) cada uma das decisões tomadas, mas certamente cometi vários enganos. Estendo agora minha mão à palmatória: aos que leram a revista e gostaram do texto, garanto que muito mais virá; aos que leram e não gostaram, digo que com certeza a culpa foi minha.
Dividi o trabalho em quatro etapas. Na primeira, simplesmente transcrevi as três aulas, sem nenhuma revisão ou preocupação externa. Na segunda, provavelmente a mais difícil, decidi se daria uma estrutura ao texto, mudando a ordem das aulas, ou se manteria a ordem original. Com muito custo, escolhi a primeira opção: o texto da revista começa com a segunda aula, continua pela terceira e termina na primeira. Contarei ao longo do tempo por que fiz isto, mas já aproveito para avisar que aqui as aulas vão exatamente na ordem em que foram gravadas, sem qualquer edição de som.
Tendo decidido como seria o texto, comecei a prepará-lo, tentando manter sempre que possível as exatas palavras usadas pelo Bruno. Em algumas passagens consegui; em outras seria impossível, uma vez que era necessário manter a inteligibilidade. Por fim, precisava tirar os vícios de linguagem que permeavam todo o ensaio (comuns na fala, mas imperdoáveis na escrita). Este era o grand finale que o texto merecia. E não teria ficado nem próximo do que ficou se não fosse pela mão de ferro do nosso editor, Henrique Elfes, que ralhou com cada vírgula que eu havia colocado, com cada pronome desnecessário, e finalizou o texto como ninguém.
Eu fico por aqui; mas como vocês já devem estar curiosos, preparei para hoje um aperitivo. Separei nas gravações as partes em que o Bruno recitava os seus poemas. Até onde sei, nenhum dos que seguem haviam sido gravados por ele. Quem conheceu o Bruno, certamente se lembra do quanto ele gostava de falar e de como fazia isso com facilidade. Reparem no tom da voz (principalmente no último poema) e vocês verão o que está a caminho…
Poemas recitados:
1. A imitação da música I-II. Do livro O mundo como Idéia.
2. I. 66-67. Do livro A imitação do amanhecer.
3. [Sátira sem título]. Inédito.
4. O segredo. Do livro As horas de Katharina.
Parabéns a todos os envolvidos péla iniciativa da publicação! Em especial ao Guilherme. Quem esteve nestas aulas sabe a importância deste texto, tanto para a cultura do país como para nossas vidas. Obrigado e parabéns, Guilherme!
Sejam generosos com essas gravações.
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1. Lucas: promessa é dívida! Havia prometido que divulgaria as aulas quando elas terminaram e aqui estão. Obrigado pelas palavras e apareça no lançamento!
2. Pedro: seremos generosos, fique tranquilo!
3. Rafael: obrigado! Devidamente corrigido!
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Pena que eu, cá em Belo Horizonte, não tenha podido comparecer ao lançamento da revista; contudo, gostaria de expressar a minha sincera felicidade: não é sempre que surgem publicações do tipo. Ademais, os envolvidos no projeto são uns ilustres (a maioria eu leio há muito).
Poderei comprar Dicta aqui em Minas?
Abraço.
Escutar o Bruno dá um aperto no coração… São tantas lembranças! Essa é uma justa homenagem a quem tem tanto a ver com essa revista. Muito bom, Guilherme!
Senhores,
Eu estive no lançamento e a revista até onde já li, é um espetáculo. É trabalho acessível, minucioso, com muito capricho e rico como este que tenho em minhas mãos. Vocês estão de parabéns!
Nazaré Braga
Maravilhoso.
Guilherme, a revista ,que ainda nao lí, parece um primor segundo os comentarios que leio em toda a rede e blogs.
Sua explicacao me fez lembrar o Adolfo Casais Monteiro falando da obra do Fernando Pessoa:”As páginas que aí ficam nem por sombras pretendem explicar a poesia de Fernando Pessoa. Todo comentário crítico de uma obra ainda em grande parte inédita, nao pode ter outra ambicao que nao seja a de ir abrindo caminhos provisórios.
…..
Pessoa morre em 1935, e quando saiu a 1a. edicao desta “Antologia”, nao havia senao um livro seu publicado: a “Mensagem”…….E contudo, mau grado todas as dificuldades, mau grado o carater fragmentario da sua obra,Fernando Pessoa já estava, pelo menos no espíritodas geracoes mais jovens, no lugar que em vida poucos lhe souberam dar.”
E queira perdoar a falta de acentos e o portugues pobre de alguem que tem problemas tècnicos com o teclado do computador…
Parabéns pela edição, Guilherme. Estive em uma das últimas aulas, como sabes, e ler aquele texto recuperou muito do que andava esquecendo. Foi uma alegria muito grande ler o texto bem como ouvir agora as gravações do Bruno.
guilherme, tenho a impressao que voce vai gostar desta brincadeira feita na Tv espanhola quando “editaram” entrevistas com escritores da lingua espanhola, que envio dividida em dois videos no youtube…nao deixa de ser uma ideia.Boa sorte,livia
…Um convite ao pensamento.. apesar da pressa do mundo …
(cf jornal OESP-15/06/08)
Enqto desfruto e saboreio a 1a edição..aguardo já anciosa a 2a. Parabéns pela iniciativa e nossos agradecimentos pelo presente!!!!
P.S.: Estou aqui ouvindo os poemas pela 3a vez. Emocionante !!!