Terminei de ler o mais recente livro de Philip Roth, “Fantasma Sai de Cena” (Exit Ghost, Cia. das Letras). Não é tão poderoso quanto, por exemplo, “O Animal Agonizante” e “Everyman” (não consigo pronunciá-lo como “Homem Comum”) – e não chega aos pés de “O Teatro de Sabbath”, um dos grandes livros da década de 90. Mas há momentos tocantes – e insights que não deixam a dever nada ao melhor Roth, como, por exemplo, as citações a Joseph Conrad (há uma verdadeira obsessão por The Shadow Line que permeia cada linha do romance) e as inúmeras reflexões sobre a mortalidade humana. Ao que parece, “Fantasma Sai de Cena” é a despedida de Nathan Zuckerman, o alter-ego de Roth, agora impotente, incontinente e sofrendo com as perdas de memória – algo cruel para quem vive das lembranças como seiva da vida.
Mas também cheira a uma despedida do próprio Roth – uma despedida triste, diga-se de passagem. Há um odor amargo no final do livro, um odor que fica com o leitor quando este percebe que tanto o personagem como Roth não possuem meios para encarar a derrota da vida. Porque a vida é isso, meus amigos: um constante atravessar da linha da sombra, se não for da juventude para a maturidade (como é o caso da obra de Conrad), sem dúvida será um dia da maturidade para o nada. Roth bate na tecla da mortalidade com uma freqüência que nos deixa estonteados; mas aí vem a pergunta: será que a vida é só isso – derrota atrás de derrota?
Para Roth e Zuckerman, a resposta é positiva. Não há volta para qualquer ato, até mesmo para a grande literatura. De nada adianta criar uma obra – a vida pedirá um preço e este será alto demais. Para quem era conhecido como um “transgressor” (para usar um termo de Carlos Felipe Moisés) no início de carreira, Philip Roth atravessa a sua última linha de sombra como um conformado com a decadência e com o fim. Talvez este seja o caminho de todos os marginais – de maior ou menor talento.
Felizmente, ainda não é a despedida de PR. Em setembro, sai Indignation: http://www.amazon.com/Indignation-Philip-Roth/dp/054705484X
Caro Martim, vou fugir deste assunto. Li sua resenha do livro A Treatise of Civil Power de Geoffrey Hill na Dicta e gostaria de te enviar este comentário do blog do Pedro Mexia, que eu leio assiduamente, sobre o mesmo livro:
” Não sei se Geoffrey Hill é o melhor poeta inglês vivo: é certamente o mais «distinguished» numa «linhagem Eliot».
Hill tem um universo de referências vastíssimo, da Antiguidade ao Holocausto, e os seus poemas são sempre sérios e densos, monólogos culturalistas e meditações eruditas sobre assuntos com maiúscula. É um poeta difícil, que exige notas e reader’s guide.
Comprei a última colectânea de Hill, A Treatise of Civil Power (2005), e vi que na contracapa traz elogios do Times, do Telegraph, da Spectator e da New Criterion. Ou seja: de toda a direita decente. E fico a imaginar que país estranho e fantástico é a Inglaterra.
A nossa «direita» fugiria a sete pés de um poeta português que escrevesse como Hill. A nossa «direita» quer uma poesia «acessível», «que se entenda», e, já agora, que fale do «caminho marítimo para a Índia». É por isso que o poeta favorito da direita portuguesa é um socialista.”
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