E, de novo, lá vamos nós.
Para onde? Para o mundo maravilhoso das esperanças antecipadas do universo literário.
A bola da vez agora é Jonathan Franzen, o autor de As Correções, que, junto com As Benevolentes, do também xará Jonathan Littell, salvaram a literatura do esquecimento completo nesta primeira década dos anos 2000.
Franzen lança esta semana nos EUA seu novo romance, Freedom. É um outro catatau que nem li, mas me parece que já gostei. As Correções era um livro invulgar porque era capaz de misturar William Gaddis, C.S. Lewis, crítica social, inquietação existencial, sem se perder nos maneirismos de estilo e, sobretudo, sem deixar que o leitor parasse de se preocupar com seus personagens idiossincráticos.
Parece-me que Freedom vai pelo mesmo caminho, mas desta vez coloca, no seu quadro de referências, Tolstói com uma pitada de Richard Yates. Uma espécie de Guerra e Paz em versão suburbana WASP.
O problema é que a crítica já entoou em unanimidade que Jonathan Franzen é o Grande Romancista Americano (como apontou a Time em uma reportagem de capa).
Não é. Querem um exemplo? Seu longo ensaio sobre William Gaddis pode ser divertido, mas é extremamente equivocado ao tratar da obra deste que foi o pai de todos os Pynchons, todos os DeLillos, todos os David Foster Wallaces e, claro, de todos os Franzens.
Mas por que a crítica entra na vertigem do hype? Por que querem logo eleger alguém como a salvação da literatura?
Suponho que o motivo é que as pessoas – mesmos os críticos, estes sujeitos sem coração – querem a própria salvação a qualquer custo – e a literatura pode fazer isso em um piscar de olhos. Basta o leitor querer.
Contudo, como todos nós sabemos, nem isso a literatura pode fazer. Afinal de contas, a vida se encarrega de nos avisar direitinho do nosso lugar no mundo. De preferência, no último lugar da fila ou na pior carteira da sala de aula.
Jonathan Franzen pode ser um escritor talentoso. Disso não tenho dúvidas. Mas não poderá nunca nos dizer como sair da enrascada em que nos metemos e que damos o apelido de “nossa vida”.
Olá.
“Seu longo ensaio sobre William Gaddis pode ser divertido, mas é extremamente equivocado ao tratar da obra deste que foi o pai de todos os Pynchons, todos os DeLillos, todos os David Foster Wallaces e, claro, de todos os Franzens.”
Se for possível, gostaria de saber por que o ensaio é extremamente equivocado. Um abraço.
Uai… leia o texto e descubra a razão. Ou vc acha que eu coloquei o link para que não leia? Abraços, Martim.
o ensaio é, de fato, equivocado. e o franzen não chega a ser um grande escritor (como são delillo, pynchon, foster wallace e gaddis).
mas não me incomoda tanto essa máquina de hype. como no caso do bolano, ela é tola, mas é o único jeito de grande mídia lidar com literatura. é bobo, mas é melhor do que ignorar por inteiro.
o negócio é só não confundir esse tipo de processamento com o que deve fazer a grande crítica, a academia, etc.
e esse funcionamento nos EUA passa fortemente pela imagem do grande romance americano, né, o romance definidor de uma geração, de um zeitgeist, etc. o franzen escreve com essa intenção claramente antojada.
“salvaram a literatura do esquecimento completo nesta primeira década dos anos 2000″
Não entendi. Os livros que, por exemplo, Cormac McCarthy e Geoffrey Hill publicaram nessa mesma década — eles foram completamente esquecidos, serão completamente esquecidos, como é que é isso?