Sam Blumenfeld olha para o legado já centenário de idéias socialistas utópicas na cultura americana, especialmente o papel que tiveram na formação do método educacional de John Dewey (que escolheu para encabeçar sua lista de livros mais importantes Das Kapital e o romance Looking Backward, cujo autor imaginava os EUA socialistas no ano 2000).
O método educacional de John Dewey visa a eliminar o individualismo e o pensamento individual, focando, ao contrário, na socialização dos alunos. Seu grande alvo, portanto, era aquela disciplina que mais dava ferramentas para o pensamento individual: as letras (a própria importância comumente dada à literatura era, para ele, “uma perversão”). Daí veio a principal contribuição de Dewey ao sistema de ensino americano: o método de alfabetização da “palavra inteira”. Ao invés de ensinar às crianças as letras e seus sons, para com elas formar palavras, mostra-se as palavras inteiras para que elas, empiricamente, associem cada palavra a seu “desenho” correspondente; no fundo, cada palavra é tratada como se fosse um ideograma. Um século depois, os indivíduos “socializados” de John Dewey têm sérias lacunas de alfabetização.
O artigo é interessante, mas creio que há outro motivo para o uso dos famosos “picture books” na alfabetização em língua em inglesa. A língua quase não tem regras de ortografia e raramente o som corresponde à letra: o beabá não funciona por bandas anglófonas. Vide o famoso fish/ghoti do Shaw.
off-topic (com uma pequena relação com o post)
Já que, conforme o Joel escreveu acima, há sérias falhas no ensino, a maioria dos jovens rejeita a leitura como forma de aprendizado, quer tudo em dicas (de preferência em 140 caracteres), macetes, quadros esquemáticos, vídeos, músicas, rimas, etc, etc.
O vídeo abaixo faz um bom serviço nesse sentido, além de ser uma idéia pra lá de genial…
http://www.youtube.com/watch?v=GTQnarzmTOc
Cristian, você exagera o ponto. Dizer que “raramente o som corresponde à letra” não me parece nada preciso. A letra “g” em geral tem som de “g”. Às vezes é usada muda (como em “though”), às vezes tem som de “f” quando junto do “h” (como em “enough”), mas em geral tem o som normal, e mesmo nesses usos de exceção preserva-se com boa regularidade. Enough, tough, rough, cough. Todos têm o som de “f”, e preservam a grafia. É uma língua em que as letras têm mais sons que o português, e na qual os mesmos sons podem ser escritos de muitas formas diferentes (o francês permite ainda mais variações que resultam num mesmo som), mas isso não chega nem perto de significar que não existe ortografia ou que “raramente” o som corresponda à letra. Ocorre que nós, naturalmente, lembramos mais das exceções, que chamam a atenção, do que dos casos normais.
A brincadeira fish/ghoti é exatamente isso, uma brincadeira; pois embora as letras de “ghoti” em diversos usas tenham os sons de “fish”, é óbvio que escrita desse jeito, em inglês, “ghoti” nunca seria lida como “fish”. Ou seja, há uma ortografia que todos os que sabem escrever conhecem, ainda que implicitamente.
Por isso mesmo é que muitos pais que rejeitam o método Dewey de alfabetização (que pelo próprio Dewey tinha a finalidade de dificultar o pensamento autônomo) usam o be-a-bá tradicional e educam seus filhos com sucesso.