A resposta a esta pergunta, segundo David P. Goldman, também conhecido como Spengler, é um sonoro “não“. Para ele, Richard Wagner – um dos gênios mais canalhas que já existiu na face desta terra – se tornou uma espécie de “muzak“, um exemplo a ser copiado na marcha imperial de Darth Vader ou na escala cromática de “Somewhere over the rainbow”. Deixemos o autor argumentar um pouco:
Wagner’s power comes, first of all, from his music, but we have lost the capacity to hear it the way Baudelaire and Mahler did. And our inability to hear Wagner’s music constitutes a lacuna in our understanding of the spiritual condition of the West. Despite Wagner’s reputation for compositional complexity, his musical tricks can be made transparent to anyone with a rudimentary knowledge of music. In some ways, Wagner is simpler to analyze than the great classical composers. Because—as Nietzsche said—Wagner is a miniaturist who sets out to intensify the musical moment, his spells, at close inspection, can be isolated.
Popular literature and program notes describe Wagner’s compositional technique in terms of the so-called leitmotif, or leading motive—a musical theme associated with a particular concept or character. This is true, but trivial. This device has become such a commonplace among film composers that we cannot help hearing, in Darth Vader’s “DA-da-da-DA-DUM-de-DA-DUM-de-DA,” a caricature of the giants’ motive in Das Rheingold—which is exactly what it is. Today we hear Wagner the same way we hear the background music to Star Wars. The lampoon has displaced our perception of the original work.
Contudo, o pessoal da É Realizações acha o contrário. Amanhã, dia 9 de dezembro, começa uma seqüência de eventos que discutirá a importância de Richard Wagner, inclusive com o lançamento de um livro de ninguém menos que Roger Scruton:
Quais das versões você vai escolher? Ora não cabe a mim decidir. Afinal de contas, não foi para a posteridade que Wagner fez sua música?
Vale.
Bom, mas o Goldman também aponta que tratar com Wagner é de importância capital para entender a atual deriva do Ocidente; e refere que o melhor de suas composições é de fato muito bom. Não é preciso buscar o êxtase em peregrinações a Bayreuth para interessar-se pelo Anel, como não é necessário celebrar os ritos de São Michel Foucault para interessar-se, digamos, pelo Zaratustra de Nietzsche.
O ponto levantado com clareza no ensaio é que o “muito bom” em Wagner está a serviço de uma proposta estetizante, na contramão daquilo mesmo que na cultura ocidental lhe serve (a ele, Wagner) de suporte para suas intervenções. Em duas palavras: “Western composers altered the pace of musical time to depict the irruption of the sacred into the temporal realm. Wagner (as in the “Brünnhilde’s awakening” example) performs this move in reverse, attempting to pack the sacred back into the temporal.”
E para além dessa discussão que o Goldman conduz com elegância e propriedade, há uma outra que concerne à aproximação feita pelo Wagner de arquétipos e mitos cuja existência e força independem completamente das vicissitudes e das teses esquisitas associadas à sua aproximação mesma.
Por causa da possibilidade de leitura ou escuta de Wagner nesse registro “mítico” é que ele, por exemplo, desempenhou um papel relevante no processo de conversão de C.S. Lewis (a história é contada na autobiografia “Surprised by Joy”). Feliz aproporiação indébita, digamos, de um material que T.S. Eliot também soube aproveitar.
Agora, verdade que para quem dispõe de pouco tempo há muitas outras coisas mais interessantes ou simplesmente humanas e equilibradas por aí. Sei lá, Brahms ou Thelonius Monk por exemplo, como propõe um comentador no blog da First Things…
Além da música rudimentar, era o músico preferido de Hitler. Dois motivos contra
Como se Hitler foisse um estroina em suas escolhas musicais e literárias! Não banalizem Wagner, apreciem!