Do desaparecimento do humor judaico

Nos tempos atuais, não é apenas a questão do anti-semitismo (não, queridos, não vou usar a nova ortografia, não insistam, por favor) que preocupa o escriba que vos fala, i.e., a existência de um bando de meia dúzia de celerados que gostaria de ver uma raça (e, ergo, uma religião) explodir pelos ares (literalmente), mas também o provável desaparecimento de uma arte que está prestes a ter suas respostas sopradas pelo vento: a do humor judaico.

Aludo ao tema porque, graças ao blog  ângulo, descobri este texto sensacional sobre o encontro entre Woody Allen e Larry David no filme Whatever Works, dirigido pelo primeiro. Para quem ainda se mantém mais ou menos sintonizado com as coisas que realmente valem a pena no Planeta Terra, Woody Allen já deve ser um velho conhecido nosso, enquanto Larry David é ninguém menos que o gênio nos bastidores de Seinfeld, o melhor sitcom já feito na história da TV.

O ensaio faz um panorama de como o humor judaico foi se adaptando às necessidades dos novos tempos até chegar a irreconhecíveis “herdeiros” como Judd Apatow e Sarah Silverman – e, o que é mais estranho -, esquecendo-se da figura de Sasha Baron Cohen, o Borat, que, como disse o próprio Larry David, é o único que está em pé de igualdade com grandes como Groucho Marx e Lenny Bruce.

Mas além do texto há uma indicação que me deixou com um sabor agridoce: é o Old Jews Telling Jokes, um projeto de Sam Hoffman (produtor executivo de Bullets over Broadway, de Allen) que busca, através de depoimentos divertidissímos de rabinos, comediantes e atrizes, recuperar a magia do humor judaico. No entanto – e isso é o mais assustador e, ao mesmo tempo, tocante – a maioria das pessoas está acima de 60 anos de idade e, até agora, não vi nenhum jovem. Ou seja, a nova geração não quer saber mais do bom e velho humor yiddish.  E esta é, afinal, a intenção do projeto de Hoffman: preservar a alegria judaica antes que ela sofra o seu Shoah do riso.

Eis aí a moral da história: o nosso mundo está cada vez mais sem nenhum senso de humor, sem nenhum sentido de ironia e, sobretudo, não quer mais saber do próprio mundo e preocupa-se somente com os sonhos impossíveis. Enfim, sem nenhum punch-line.

9 comentários em “Do desaparecimento do humor judaico

  1. As Broadway Comedies de George S. Kaufman e outros autores estão em promoção no sítio da Library of America.

  2. Engraçado, já que há pouco descobri Ephraim Kishon e tenho morrido de rir com ele. Perguntei a um amigo aqui se ele era conhecido na Alemanha, e ele me disse que “bem, conhecido até demais, mas as suas piadas já estão ficando coisa de velho”, ou algo assim.

    A propósito, ou fora de, tenho uma colega polonesa que estuda judaísmo e cristianismo comparados (teologia), e não sei porque ela me pareceu uma versão sua polonesa e feminina..

  3. D.us sempre vai fazer surgir entre nós mais humoristas …como bem lembrado jerry seinfeld e borat são exemplos ilustres disso… não devemos nos preocupar tanto assim

    no brasil mesmo temos comediantes como o Marcelo Adnet da MTV – excelente …

  4. Especificamente no Brasil vivemos o efeito Susan Boyle no humor, ou seja, qualquer coisa medianamente engraçada – e por vezes medíocre mesmo, tal e qual o padrão Zorra Total – é tida como HUMOR. Enquanto isso um bom texto como o Chico Anysio fica no banco de reservas.
    A comédia stand-up tem dado o ar da graça faz algum tempo, mas o conteúdo em geral não faz jus ao formato.
    Off topic: aqui em Fortaleza/CE, periferia da periferia da periferia do planeta, a DC ainda está no número 2. Aproveitei recente passagem por BH para comprar a DC 3. Está simplesmente fantástica. Não parem, não parem! E na próxima quero capa para Ruy Goaiba, com destaque no editorial e foto vintage.

  5. eu já acho que o mundo anda em excessos de ironia, muita coisa no meramente engraçado, muitos sorrisos nervosos.

    mas se por ‘nenhum sentido de ironia’ você quis dizer também que falta *sentido* à ironia mais comum por aí… bom, daí eu concordo plenamente. o/

    (o dfw falava coisa parecida. toda essa onda *post-ironical* ou *post-irony* tem origem nele, não é? é realmente uma pergunta ^^)

  6. Dicta magazine very good, I like! Yes? When you go to paper-brick store it is always owned by the jew, you know? And he tell you many joke to distract while egg-hatchling son picks money from your pocket; he says, buy this “book”, it from Einsteins, it says Newton Christian science wrong, there is no time, gravities is relative to light, it jewish lie, we all know there is times all arounds us, they trying to make funny joke of us. Then he says buy this other, it from Freud, it tells why you love mamma more than sister-wife, but only crazy jew love mamma, we normal people hate mamma, jew mamma says world good created by God, our mamma says: world good until God created the jew. Now world poor and jew rich. It makes us hate jew, and some hate spill to mother. And they call it all sciences. It like trying to sell ice to desert people, it no work, because ice melts and desert people no buy anymore, then when jew comes next time they cut jew head off.

    But not Dicta, Dicta not jew paper-brick, Dicta Christian, I like Christian because Christian also angry against jew who killed savior of mankind. Jew don’t like salvation, all jew wants is golden sheep. But you must not lower guard, for jewish infiltrator Pondé is trying to poison magazine.

    After you remove him, I will say to everybodys: buy Dicta, where no jews allowed!

  7. Caro Daniel:

    Apesar de seu inglês claudicante, entendemos a sua mensagem. Só para esclarecer: o único inflitrado que existe na revista sou eu. Shalom, Martim.

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