Atendendo a pedidos, vamos hoje de João Pereira Coutinho com seu Edmund Burke e o conservadorismo. Infelizmente não poderemos atender a todos os pedidos na hora: mas eles não serão esquecidos, isso eu garanto!
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Em busca do equilíbrio
por João Pereira Coutinho
I.
Conservador é um bom termo de insulto. Vivemos num tempo progressista: um tempo que acredita na missão transformadora da política rumo a um fim determinado. O conservador é a pedra na engrenagem. Ele levanta dúvidas. E, levantando dúvidas, ele coloca em causa a suprema vaidade do ser humano: a vaidade na sua razão e na capacidade da razão para produzir resultados perfeitos.
Este é o tom vulgar do insulto: o conservador como obscurantista, retrógado, reacionário. Mas existe um segundo insulto, mais erudito, que os especialistas do pensamento político gostam de colar ao de conservador clássico. Dizem eles que o conservadorismo, como ideologia, surge destituído de um ideal substantivo. Os liberais abraçam a liberdade como valor fundamental. Uma sociedade será mais liberal, e conseqüentemente mais perfeita, quanto maior for a área de liberdade individual de um ser humano – a “liberdade negativa” que fez fama e fortuna para Isaiah Berlin. O mesmo acontece com a família socialista: a igualdade (ou, como dirão os discípulos de Rawls, a eqüidade) é o fim máximo de uma sociedade que se deseja mais justa e fraterna.
Excelente.
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Quero ver qual revista, com nome de ferramenta ou não, consegue um texto tão longo e tão bom de um sujeito como João Pereira Coutinho.
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Ademais: quero ver que revista, com nome de ferramenta ou não, coloca na internet, de graça, um texto que vale por uma aula.
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Não há essa revista concorrente. As outras são muito apegadas ao dinheiro pra se preocupar só com a qualidade.
E mesmo assim a Dicta é que é de direita e capitalista…
Prezados,
não conhecia este blog, e julguei o que vi até agora bastante formidável. Sobre o ensaio do João Pereira Coutinho devo dizer que gostei da análise do pensamento do Burke. Contudo, acho que restou um pouco excessiva a relação entre as teses de Burke, e aquilo que se pode denominar de tradição intelectual cética, de todo ele é muito pouco cético. Senti falta, já que ele foi um pouco elástico nos argumentos, das teses de Bentham sobre as pernas de pau dos direitos universais. No mais, penso correta a interpretação de que a predicação conservadora é pouco interessante. Na verdade, é bastante prudente, como o fez Hume, pensar a relação entre a cristalização de instituições e o acréscimo de novas crenças.
Um forte abraço,
Cesar Kiraly
Sugiro, para a postagem da semana que vem, o texto do Martim. Num período em que os atos secretos do Senado e o próprio presidente da casa dão mais audiência que a novela das oito, vale a pena retomar os ensinamentos de Joaquim Nabuco, de como lidar, na política, com as angústias e tensões comuns a todos os seres humanos.