Esferas de Dyson

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Ouvi alguém perguntar dia desses: estamos ainda buscando alienígenas? Lembrei-me do programa SETI – Search for Extraterrestrial Intelligence, que desde 1985 recebe uma boa grana para procurar vida fora da Terra. A constituição do SETI traz in verbis a equação de Drake, lançada em 1961, que procura quantificar as estimativas a respeito do número de civilizações tecnologicamente desenvolvidas que podem existir no espaço. Um dos meios mais difundidos, usados já antes da fundação do programa, é a tentativa de captar sinais de rádio interestelares (cf. Cocconi/Morrison, Nature 184 (1959), pp. 844-846). Até hoje, aparentemente nada de substancial foi encontrado.

O SETI também usou as ideias de um matemático chamado Freeman Dyson, que recentemente voltaram à tona. Dyson propôs (em Science 131 (1960), pp. 1667-1668) que, além da procura por ondas de rádio, deveríamos também procurar por fontes de radiação infravermelha intensa e atípica. A teoria dele é que, se uma civilização tiver chegado a um nível tecnológico suficientemente avançado, é provável que, em algum momento, tenha se deparado com o sério problema da necessidade cada vez maior de energia (também em virtude da superpopulação, explicada pelos princípios malthusianos). E como produzir energia em escala monstruosa? Dyson argumenta com o que poderá acontecer com a Terra e, se o argumento vale para nós, valerá também para um planeta semelhante dentro de outro sistema solar. Pressões malthusianas nos obrigariam, no futuro, a explorar ao máximo nossas fontes de energia.

Atualmente, a quantidade de fontes exploradas pela espécie está limitada à biosfera da Terra, uma massa na ordem de 5 x 10^19 gramas. Nosso fornecimento de energia está limitado mais ou menos a 10^20 ergs por segundo. A quantidade de matéria e energia a que teríamos acesso no interior do nosso sistema solar seria de 2 x 10^30 gramas e 4 x 10^33 ergs por segundo, respectivamente. Essa seria a saída total de energia do Sol. Aproveitar essa radiação toda, em alguns milhares de anos, não é uma possibilidade muito remota, na visão de Dyson. O mesmo aconteceria a uma hipotética civilização.

Mas como captar toda essa energia? Ele propôs, de modo imaginativo, a construção de uma estrutura orbital capaz de interceptar essa energia toda — cobrindo, por exemplo, o Sol inteiro. E de onde ele tirou isso? De uma história de ficção científica chamada Star Maker, de Olaf Stapledon, entre outras. Confesso que só fui entender o conceito de Dyson-sphere (o nome dado a essas estruturas orbitais imaginadas) pensando em criações literárias como a de Stapledon. Recentemente, visitei o Museu Politécnico de Moscou, e nada do que existe ali — por fantástico que seja — me permitiria dar o salto para uma biosfera artificial de proporções monstruosas desenhada para captar toda a energia do Sol.

Em 1980, fazendo uso de um banco de dados resultado de uma varredura infravermelha do céu, uma equipe do Fermilab procurou pelas esferas de Dyson. Nada encontraram, a não ser alarmes falsos (estrelas gigantes). Recentemente, compraram caro a ideia de Dyson. Evidentemente, não a ideia de construir uma esfera de Dyson, mas sim a de procurar um desses objetos no espaço. A quantidade aumentada de radiação infravermelha reemitida por uma esfera desse tipo, em razão da densidade do material, alteraria o espectro do sistema solar por espectroscopia, o que permitiria detectá-lo procurando por valores de variáveis que caracterizem “atipicidade”. Além de usarem o banco de dados empregado pela equipe do Fermilab, usarão outras muito mais sensíveis (inimagináveis nos anos 80), como a WISE – Wide-field Infrared Survey Explorer da NASA, investigando nossa galáxia e outras cujas características sejam compatíveis com o objeto buscado. Tudo o que for encontrado será meticulosamente examinado, com a finalidade de desfazer enganos.

Jason Wright, o cientista baby face à frente do projeto, declarou ao The Atlantic: “I can tell you, it’s strange to write a serious research proposal and have half of your bibliography be science fiction.” O projeto está sendo financiado pela Templeton Foundation, que costuma entregar dinheiro vivo para quem quer que a convença de que está realmente interessado nas “grandes questões”, como a realidade última das coisas e a finalidade da vida humana. Embora desconfie de projetos desse tipo — tentar provar crenças formadas de antemão com auxílio da ciência é sempre um procedimento suspeito –, esse ao menos parece divertido. Não é a primeira vez que a literatura inspira projetos tão práticos como quixotescos.

Com tão pouca inteligência na Terra, não custa procurá-la em outros lugares.

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2 comentários em “Esferas de Dyson

  1. Olá Júlio, tudo bem?

    Gostaria de obter algumas rápidas informações sobre os livros da biblioteca do Mário Ferreira dos Santos que você adquiriu. Poderia me mandar um email para falarmos a respeito?
    Desde já obrigado,

    Leandro

  2. Leandro, sorry, mas não adquiri parte da biblioteca do MFS. Eu tinha acesso a ela porque os livros foram incorporados à biblioteca privada de uma residência em que morei por muito tempo. Abraços!

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