Um artigo recente da revista Philosophy Now retoma a concepção clássica de “eudaimonia”, ponto central e finalidade de todas as éticas da Antigüidade. Em geral, o termo é traduzido por “felicidade”. O problema é que, hoje, “felicidade” significa principalmente bem-estar subjetivo. Para os antigos, o termo denotava, antes de tudo, a condição objetiva do indivíduo que vive de acordo com sua natureza humana, ou seja, que atualiza, em si, todas as potencialidades do seu ser. Para isso é que precisamos cultivar as virtudes, aquelas disposições e tendências internas que nos ajudam a se comportar consistentemente de acordo com o bem objetivo. Quem vive de acordo com o bem objetivo de sua natureza humana tem, naturalmente, grande bem-estar subjetivo, mas isso é uma conseqüência de se viver bem, e não a própria definição da felicidade.
O artigo é muito bom em fazer a distinção entre as duas concepções, e argumentar que, embora a felicidade meramente psicológica (subjetiva) receba toda a atenção hoje em dia, é necessário também considerar fatores objetivos, e propriamente éticos, que são muitas vezes deixados de lado. Longe de se restringir apenas aos filósofos antigos, traz para a discussão nomes improváveis de se associar à tradição da ética das virtudes, como David Hume e John Stuart Mill.
No final das contas, parece-me que a separação feita pelo artigo entre felicidade subjetiva e objetiva é radical demais; é claro que a distinção é válida e importante, mas ele não chega a estabelecer nenhuma relação entre elas, fazendo parecer que uma nada tem a ver com a outra. Além disso, a conclusão de que são preciso alguns parâmetros objetivos (por exemplo, não matar) dentro dos quais cada um procurará seu bem-estar subjetivo da forma que melhor lhe aprouver é, sem dúvida, muito distante da concepção clássica do que é a ética. Ainda assim, é um artigo muito elucidativo e com considerações e questionamentos relevantes; vale a pena ser lido.
Joel!
Trabalhar com categorias objetivas hoje em dia parece quase uma loucura, para as mentes que, a partir de uma leitura rala das teorias da relatividade e da incerteza, acham que não existe nenhuma verdade fora de nós, muito menos algum padrão moral. Na verdade, nem pensam nisso conscientemente, o que já é preocupante, pois não partem de uma pergunta pessoal que os leve a alguma elevação espiritual. Enfim, a situação está difícil…Mas, façamos a nossa parte: acessar aqueles conhecimentos que fazem parte da nossa história e estão concentrados na nossa tradição grega e judaico-cristã e que fornecem muitas “pistas” para aprendermos o “bem viver”…abraço!
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