No Brasil conhecemos o mau jornalismo como ‘jornalismo marrom’. Segundo James Keryan, estão inventando a ‘ciência marrom’. O que não é nenhuma novidade.
Estive pensando sobre o jornalismo: há lugar ainda para a boa e velha investigação dos fatos? Como os seus pais fundadores Randolph Hearst e Joseph Pulitzer, os editores de sucesso preferem agradar os leitores com sensacionalismo, assim como os diretores de cinema preferem atrizes que adoram passar frio.
Embora não tenhamos o estilo do New Yorker, temos ainda jornalistas ‘indo até o fim’ como se deve, citando fontes (ou ao menos consultando-as), sem medo de dizer que, mais uma vez, “it’s no big deal”. O padrão de quem não procura as coisas, mas o impacto, é o lado exclusivamente patológico da vida, ou ao menos o seu aspecto mesquinho, confirmador de cinismos. O jornalista marrom é como o advogado fanático, que se acostuma com casamentos arruinados e pensa que o dele também terá o mesmo fim (o que é quase como buscar aquilo que se profetiza). Ele tem em vista o desejo do leitor médio: “Não vá me decepcionar. Por favor, seja imprudente”.
Mas é óbvio que os escândalos também merecem divulgação, como no Caso Watergate, embora ele tenha sido mais divulgado por confirmar os ideais do Partido Democrata – hoje indiscutivelmente apreciados pelos brasileiros – do que por ser uma vitória do jornalismo viril. Teria dúvidas antes de aprovar integralmente o trabalho de Woodward & Bernstein, mas confesso que muito disso é desejável e se perdeu. E sem esquecer o irônico e corajoso Edward R. Murrow, retratado com o seu rictus amarus e tudo o mais em Good Night, and Good Luck (2005).
Não hesitaria, entretanto, em sugerir aos jornalistas menos sociologia e mais metafísica. Uma solução para a sua falta de realismo, sobriedade e hierarquia seria a luta por colocar as idéias em ordem na própria cabeça. Novamente, não é algo para ser demonstrado; é algo para ser posto em prática.
O jornalismo old school não se perdeu para o sensacionalismo, mas para o conceito de objetividade que é cultuado hoje em dia, provavelmente por culpa de Walter Lippman.
Para essa “objetividade”, existem sempre dois lados de um fato. Assim, não é necessário investigar fatos, apenas perguntar quais as opiniões dos “especialistas” e das partes interessadas. Do contraste dessas opiniões, surge a “verdade” objetiva.
Isso tem duas implicações imediatas: opíniões que não se encaixam nos “dois lados” da objetividade são alienadas; e não é necessário mais qualquer tipo de investigação para fazer jornalismo.