Oh keep on moving keep on moving on a fast train
Going nowhere, across the desert sand, through the barren waste land.
Van Morrison, Fast Train.
É sempre próximo do dia 11 de setembro que certos eventos começam a mostrar um padrão; primeiro, é um pastor maluco que resolve queimar o Corão; segundo, temos George Soros investindo seu poder e dinheiro para neutralizar o movimento dos tea-parties; terceiro, Fidel Castro resolve ir para a “oposição”, contra os pedidos de Lula e Celso Amorim; depois é Barack Obama pedindo que o tal pastor não faça tal loucura porque estimularia mais atentados terroristas.
Quando falo em um padrão peço ao leitor que entenda isso em uma perspectiva paranóica-teológica, se for possível para a sua mente dominada por preceitos racionais. Não há como abordar isso de outra maneira quando sabemos as ações que foram feitas em um país supostamente democrático como os EUA a respeito do pastor doidivanas são as seguintes (agradeço ao Mr. X por ter feito esta lista, que eu não teria paciência nenhuma de fazê-la):
* A prefeitura da cidade negou ao pastor a permissão de fazer fogo;
* O seu banco cancelou sua hipoteca;
* A companhia de seguros cancelou o seguro à propriedade da Igreja;
* O General Petraeus, comandante das forças no Afeganistão, manifestou-se contrário, afirmando que poria em risco a vida de tropas;
* Hillary Clinton, Secretária de Estado e representante do governo americano, manifestou-se rispidamente contrária;
* Finalmente o próprio presidente americano, Barack Obama, pediu publicamente ao pastor para não queimar o livro;
* O site da Igreja foi cancelado e apagado pelo servidor;
* A Associated Press e a Fox News garantiram a seus espectadores que não mostrariam cenas da queima do livro caso esta ocorresse;
* Colunistas e articulistas, até mesmo à direita, informaram que era uma maluquice, um absurdo, uma loucura.
* A Interpol anunciou que o ato poderia levar a novos atentados.
* O pastor foi finalmente forçado a desistir do ato, em base a uma promessa (depois desmentida) de mudança do local da mesquita de Ground Zero.
Se isso é democracia, não sei o que pode ser chamado de outro nome, exceto perseguição pura e simples; o pastor é um lunático, sem dúvida, mas deve ser impedido conforme os ditames da lei e da razão, e não dentro de estratégias de poder que usam outros subterfúgios para intimidar e, no fim, provar que são todos reféns de uma ideologia nociva encrustrada nos establishments americanos e europeus.
Na verdade, trata-se de um caso de “dois pesos, duas medidas”. Antes que voltem a me xingar – o que não vejo nada errado nisso pois prova que faço o meu trabalho direito – e me acusem de “islamofóbo”, vamos refrescar nossa memória sobre um evento que aconteceu há cerca de duas semanas, não foi noticiado na imprensa com alarde e que foi comentado com rigor por Richard Fernandez, do blog Belmont Club.
Eis o fato: Maher El-Gohary é um muçulmano egípicio que, em um belo dia, resolveu se converter ao Cristianismo. Ao que parece, como observa Fernandez, apesar dos intelectuais afirmarem que o Cristianismo está em decadência, muitos muçulmanos abraçam a religião cristã. Para o Islã, são apóstatas, i.e., renegaram a sua verdadeira fé (Antes que qualquer engraçadinho venha me dizer que o Catolicismo usa a palavra no mesmo sentido, tenho de dizer que, aqui, “apóstata” não é apenas quem renega a fé católica, mas a realidade transcendente como um todo, que seria protegida pela Igreja). E os apóstatas, na religião islâmica, sofrem uma pena duríssima: apedrejamento sumário (No Catolicismo, o sujeito é expulso do corpo místico, mas sempre há a esperança de que volte a pertencê-lo, desde que, claro, continue vivo – uma condição imprescindível, se formos observar).
El-Gohary e sua filha.
Portanto, antes que a ameaça se concretizasse, El-Gohary tentou sair do Egito e ir para a Austrália. Mas seu pedido de imigração foi negado. A filha de El-Gohary pediu a ninguém menos que Barack Obama para que intercedesse a seu favor, uma vez que, depois de se tornar uma adulta, a sua apostasia para a religião cristã a faria ter o mesmo possível destino de seu pai. A lógica é simples: se Obama defendeu com unhas e dentes a construção de uma mesquita próxima do Ground Zero, ele não ousaria negar o pedido de uma menina, que também se baseava nas normas da “tolerancia religiosa”.
Ocorre que Obama negou o pedido – e o governo americano, junto com o australiano, não quer saber mais de El-Gohary e sua prole. Afinal, vivemos em um mundo democrático, não é mesmo?
Lamento informar ao leitor liberal e poliana, mas não é nada disso. Vivemos em um mundo em que os supostos governantes alegam defender somente o coletivo, com suas propostas abstratas, e se esquecem quando o indivíduo, com seu problema concreto, precisa realmente de ajuda.
Se há um padrão aqui, temos de dar uma expressão – a covardia em assumir qualquer forma de responsabilidade.
Esta palavrinha – responsabilidade – foi estuprada diversas vezes pela elite intelectual e, ao que parece, ninguém resolveu entendê-la direito. Como bem observou Vaclav Havel, em suas Cartas a Olga, a responsabilidade não é um conceito filosófico e sim um mistério que nasce quando o ser humano desce nas profundezas de sua alma e descobre que o mundo não é como gostaria que fosse. Assim, a responsabilidade não se estende somente a um Outro, que podemos abstrair como um número de uma equação matemática, mas também a um horizonte de possibilidades que está muito além de nossas mentes. E este horizonte está, segundo o filósofo irlandês David Walsh, guarded by mystery, protegido pelo mistério. Quando alguém perde a noção de mistério em sua vida – ou, o que é pior, tenta administrá-lo como se fosse uma peça de engenharia – e isto se estende para a planificação de uma sociedade, o que temos é o resultado certo de desastre. E quem também nega isso na sua vida pessoal comete um erro sem retorno.
A responsabilidade só se dá entre os indivíduos, nunca entre as instituições. Por isso, quando supostos estadistas se preocupam com pastores lunáticos, abusando da estrutura de poder para impor a covardia generalizada, e não se preocupam com uma família que quer apenas exercer a sua nova fé em paz, descobrimos que esta foi a herança deixada pelo 11 de setembro: a loucura exaltadas a níveis globais.
Unamuno já dizia, ao meditar sobre o Dom Quixote de Cervantes, que o Cavaleira da Triste Figura podia ser louco, mas não era tonto. O oráculo espanhol mal previa que agora estamos loucos e tontos ao mesmo tempo. Salve-se quem puder e apague a luz quem sair por último, por favor.
O curioso é que vários muçulmanos respondem com protestos onde há a queima de bandeiras americanas. É o monopólio de queimar símbolos caros aos outros, sem represálias do mesmo tipo.
Creio que não está havendo a percepção da construção da famosa mesquita como um símbolo muito além da própria faceta religiosa do fenômeno.
Com efeito, longe das idissioncrasias grassantes, congratulo-me com o autor, haja vista, em minha opinião, ter feito uma das mais conscientes e serenas observações acerca, senão da malediscência humana, ao menos das bobagens que regem este nosso mundo.
“Olho por olho e a humanidade acabará cega” (Gandhi), fato é que queimar bandeira, bíblia, alcorão ou quejandos denota, simplesmente, aquilo que se cham o bom e velho…bom senso…
Senhores….senhores, por favor…
Martim
Como é que se combate um pastor lunático, conforme os ditames da lei e da razão? Infelizmente, são dois pesos e duas medidas mesmo. E, para ser muito sincero, gostaria de parafrasear uma famosa atriz brasileira, quando da primeira eleição do presidente Lula: “Eu tenho medo do islamismo!”
E, pelo jeito, não estou sozinho…
“Olho por olho e a humanidade acabará cega” (Gandhi). Mentira…Esta é a forma mais humana de reagir. Ao ser ferido você deve ferir, não matar. Isto é humanidade…não ao ser ferido, matar. O pacifismo só é útil para os interesses de quem vence.
Felizmente o pai e filha egipcios fugiram para a Síria e de lá para a França onde pediram asilo. Bom, quando ao pastor, acho que tinha todo o direito ao protesto. Deveria ter queimado esse lixo chamado alcoorão escrito pelo pedófilo autor iniciante dessa perigosíssima religião. Chamo-o de pedófilo porque quem se casa com uma menina de 9 anos não passa de um ordinário pedófilo.