Lendo uma resenha de A Secular Age (2007), última obra do filósofo canadense Charles Taylor, cheguei a uma carta interessante que Nietzsche escreveu em 23 de julho de 1881 ao seu amigo Franz Overbeck. Ela diz o seguinte (trecho selecionado):
Was das Christentum betrifft, so wirst Du mir wohl das eine glauben: ich bin in meinem Herzen nie gegen dasselbe gemein gewesen und habe mir von Kindesbeinen an manche innerliche Mühe um seine Ideale gegeben, zuletzt freilich immer mit dem Ergebnis der puren Unmöglichkeit (“No que diz respeito ao Cristianismo, espero que acredite no seguinte: que, no meu coração, nunca nutri por ele qualquer espécie de desprezo, desde a minha infância, e que muitas vezes lutei comigo mesmo tendo em vista os seus ideais; e que, ao fim, com certeza, essa luta sempre se chocou com a pura impossibilidade”).
Não seria de estranhar que eu encontrasse outras edições dessa carta com partes faltando ou, inclusive, um fragmento mais “quente”, que só pude encontrar em tradução para o inglês:
Christianity… is still the best piece of ideal life which I have really become familiar with.
Se alguém tiver outra edição, pode contribuir com uma cópia na caixa de comentários…
“E agora para algo completamente diferente”, aproveitem para ler a resenha citada, escrita para o excelente MercatorNet por Randal Marlin. Taylor é certamente um dos pensadores contemporâneos mais interessantes. E ainda está vivo.
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Resenha interessante, sim, do Marlin; desperta curiosidade sobre o Taylor, que não conhecia. A respeito da carta do Nietzsche, por coincidência topei em outro contexto com a “Canção da Noite”, incluída no “Zaratustra”. Não parece um comentário à altura? “O Mensch, gib acht,/Was spricht die tiefe Mitternacht-/Ich schlief, ich schlief-aus tiefem Traum bin ich erwacht-/Die Welt ist tief, noch tiefer als der Tag gedacht,/Tief ist ihr Weh,/Die Lust – noch tiefer als das Herzeleid-/ Weh spricht – Vergeh,/Doch alle Lust will Ewigkeit, will tiefe, tiefe Ewigkeit.” Se escolhermos traduzir “Lust” por “joy”, C.S.Lewis vem à memória; e suas lições tão iluminadoras sobre a beleza do céu noturno (“The Discarded Image”; ensaio sobre o cosmos antigo e medieval, excelente proêmio à leitura de quem escreveu antes do século XVI. Mas aí é outra conversa).
Sobre a “Rundgesang” ou canção noturna, que é quase um fecho para o Zaratustra e que naturalmente descontextualizei (a thing of beauty…), não arrisco traduzir e na web não achei em português. O link abaixo é pra artigo na wikipedia sobre a terceira do Mahler e traz versão em inglês ao lado do original. http://en.wikipedia.org/wiki/Symphony_No._3_(Mahler)
http://en.wikipedia.org/wiki/Symphony_No._3_(Mahler)
Caso alguém esteja interessado: o link pra terceira sinfonia do Mahler só funciona se o parênteses com o nome dele for incluído no endereço.
Essa frase, da carta, pode ter sido solta em um momento de fraqueza.
Sim, Adrian, mas ainda assim confio na sinceridade dele – geralmente em momentos de fraqueza é que a verdade vem à tona.
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