E lá fomos ver Tom Stoppard, eu e o meu chefe, o presidente do IFE, Guilherme Malzoni Rabello. A palestra – ou melhor, a “conversa”, como anunciou a organização do evento – seria no teatro do British Council. E o horário seria realmente para quem é do teatro ou não trabalha – três horas da tarde de uma segunda-feira invernal. Mas nós, do Dicta&Contradicta, estivemos lá para você, caro leitor.
O que dizer do evento em si? Meu Deus, como o brasileiro pode pisar na jaca sem perceber…. Tom Stoppard é um dos dramaturgos mais respeitados do mundo, que tem a coragem de escrever “Travesties” e “The Coast of Utopia” (peças que, de certa forma, criticam as bases ilusórias da modernidade) e o que perguntam ao senhor? Sobre se ele escreve com caneta ou sem caneta. Se havia uma razão para o ‘fato’ dos grandes escritores ingleses não serem ingleses (momento constrangedor de puxa-saquismo, pois Stoppard é tcheco – e de nítida imbecilidade pois, como todos sabem, Shakespeare era inglês). Cousas que não exigiram um minuto de reflexão, mas apenas vaidade. Houve um momento em que achei que perguntariam sobre sua marca favorita de papel higiênico.
Apesar destas falhas – e de um entrevistador que tinha o inglês mais sofrível do planeta (detalhe: trata-se dei um evento organizado pela Cultura Inglesa) – Stoppard ainda mostrou sinais de uma inteligência ímpar. Ele deve ser muito melhor se tiver um interlocutor à altura- como o próprio falou ao afirmar que é a conversação que lhe importa na hora de escrever uma peça, não um plano ou uma estrutura fechada. Mas o que sobressaiu foi sua postura humilde, algo imprevisível para um sujeito que, aos 23 anos, só andava de taxi em Londres, mesmo na penúria, “porque sabia como poucos do seu talento”.
Talvez o tempo – e, claro, o sucesso – tenham amolecido o homem. Entretanto, a modéstia de Tom Stoppard revela uma faceta do artista que nossa terra papagalis deveria aprender: o escritor faz apenas o seu trabalho, nada mais. E o que é este trabalho? Ora, contar histórias. Stoppard deu o melhor conselho que um escritor iniciante pode ter: nunca pense em ter sucesso, pense somente em trabalhar. Não pense na idéia – torne-a uma realidade em um drama. Foi com essa simplicidade – digna daquilo que os ingleses chamam de craftsmanship – que Stoppard provou ser aquilo que o meio artístico nacional detesta e não compreende: o “anti-celebridade”.
Nossa, e eu que pensava em juntar umas folgas e ir de BH a SP assistir a palestra! Uma pena as perguntas nulas da platéia e o nulo mediador. Bom saber que Stoppard pessoalmente é também um homem inteligente, em diversos sentidos. Tenho minhas opiniões sobre o povo de teatro brasileiro (a maioria, apenas) mas não posso expressar a essa hora. Obrigado pela cobertura, pessoal!
Dizem que na FLIP foi o mesmo, as perguntas mais banais possíveis, e mesmo a conversa que o Veríssimo teve com ele foi um fracasso, e lá a tradução contribuiu com o mesmo daí… Ai ai ai terra papagalis!
De fato, o conselho que ele dá aos escritores iniciantes é excelente e ao mesmo tempo simples e realista. Até mais!
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