Começou oficialmente o Advento, aquele tempo de expectativa e preparação para o Natal. Mas será que nossa sociedade, querendo valorizar e exaltar o Natal (ou certos aspectos dele), vem perdendo a noção do Advento, que é condição necessária para dar-lhe significado? Estaria o Advento, que mal começou, já próximo do fim? O texto é de Joseph Bottum, conhecido nosso do número 1.
Ótimo texto. 1) Sem lamúrias, vale recordar o lugar comum: a perda do sentido dos tempos litúrgicos não causa estranheza quando sociedades inteiras são educadas no alheamento, nem digo do cristianismo, sim de informações básicas sobre cristianismo. 2) Alguém já se referiu a três marcas de qualquer tentação; coisas em si inócuas ou até positivas quando contextualizadas, mas nocivas se degeneram: dúvida (relativismo erigido em princípio); busca de prazeres fáceis e imediatos (consumismo infantilóide e erotizado, etc) e vontade de poder (esteticismo de eterno retorno; desejo de domínio excludente, hegemônico). 3) Em ambientes nos quais predominam, estas marcas tão do nosso tempo tendem a inviabilizar qualquer comunicação “irênica”, nem antagônica nem dissoluta (“tout comprendre”). Por tabela, tendem a bloquear toda espera capaz de acolher surpresas e abrir-se a conversões. Que tempo sobra para um Advento? 4) “We are the people”, ousa afirmar o Tentador em “Assassinato na Catedral”, previsivelmente apontando a Thomas Becket a possibilidade de uma “happy coalition / Of intelligent interests.” Depois do famoso sermão no meio da peça (“it is only in these our Christian mysteries that we can rejoice and mourn at once for the same reason”), depois do martírio do arcebispo inglês, já no tempo de Natal um sacerdote recorda: “Every day is the day we should fear from or hope from. / (…) / The critical moment / That is always now, and here. Even now, in sordid particulars / The eternal design may appear.”