É o que diz Craig Venter em entrevista ao Der Spiegel (traduzida para o inglês); ele era um dos geneticistas mais empenhados em decodificar o DNA humano há uma década, e está agora um tanto desapontado com os resultados concretos (e levemente irritado com seus competidores do meio científico). O código genético é tão complexo, e as combinações dos diferentes genes produzem tantos resultados, que os cientistas são ainda incapazes de lê-los. Acreditava-se, ingenuamente, que o DNA teria centenas de milhares de genes, um para cada característica do fenótipo, o que tornaria o trabalho de decifrá-lo muito fácil. O fato é que somos compostos de poucas dezenas de milhares de genes, o que significa que há cooperação em larga escala entre eles, e que cada um influi em diversas características diferentes e interage de incontáveis maneiras com os demais. E isso torna muito difícil tirar qualquer informação concreta sobre o indivíduo da análise de seu DNA; não somos nem capazes de prever a cor dos olhos.
As esperanças do doutor voltam-se agora para a criação de vida sintética, objetivo do qual ele afirma estar chegando perto, sendo capaz de criar o que ele chama de “célula mínima”. A notícia estourou algumas semanas atrás, mas não ficou claro se ele criou uma célula do zero ou se inseriu DNA sintético numa célula pre-existente. Em todo o caso, esse avanço significará, no futuro, células capazes de produzir combustível, plásticos, asfalto, etc.
É um espírito ousado e polêmico que trabalha nas fronteiras do nosso conhecimento sobre como funciona o universo.
Recentemente ele afirmou a mesma coisa numa entrevista nas “Páginas Amarelas” da Veja.
O que ameaça a genômica é aquele imediatismo que permeia toda a ciência atual.
O imediatismo começa no financiamento, quando gestores dos fundos escolhem financiar as pesquisas com tempo curto de maturação;
E continua nos pesquisadores que preferem pesquisas de curto prazo, que impactem imediatamente seus scores de produtividade.
Bem diferente de Darwin, dedicando uma vida inteira para teoria da evolução.
O estudo da genômica requer gerações de cientistas acumulando compreensão sobre o caminho evolutivo desde seres unicelulares até organismos como os nossos.
Mas o Craig não, ele já quer começar pelo genoma humano, ele quer estampar seu rosto na capa da Times.