Para você, estimável leitor, algumas breves notas sobre quatro filmes que todo aspirante a homem de cultura deve ver:
THE DARK KNIGHT (Dir: Christopher Nolan) – Achei que o último Nolan, aquela besteira chamada “The Prestige”, poderia prejudicar a sua filmografia em construção. Mas eis que ele mostra quem é com “The Dark Knight”, também conhecido como “o novo filme do Batman”. Bem, esqueçam o Morcegão. Na verdade, o filme é um pequeno tratado de ciência política. Em duas horas e meia de ação alucinante, Nolan comenta Hobbes, Aristóteles e George W. Bush com uma clareza que falta aos professores da USP. E, como se não bastasse, é o único filme que assume uma postura pró-Bush. What a nerve, dirão nossos democratas. Atualização: leiam aqui a crítica mais inteligente sobre o filme que foi publicada na imprensa mundial.
O ESCANFANDRO E A BORBOLETA (Dir. Julien Schnabel) – Nunca gostei de Schnabel – acho insuportável “Basquiat” – mas confesso que, neste filme, ele acertou. O filme exibe detalhadamente os mecanismos da vida interior de um homem, mesmo quando seu corpo impõe uma limitação angustiante. Como se não bastasse, temos a sra. Roman Polanski mostrando que também pode ser uma atriz de categoria ao interpretar uma minuciosa cena de humilhação emocional – e temos Tom Waits, com sua All the world is green, dando a melancolia justa que o assunto exige.
A QUESTÃO HUMANA (Dir. Nicolas Klotz) – O filme é foucaultiano e esquerdista, mas é de uma riqueza cinematográfica única. Poucas vezes vi o tema do Holocausto e das imagens que o remetem à nossa memória trabalhado com o rigor necessário.
MEAN GIRLS (Dir. Mark Waters) – Por indicação do nosso companheiro Pedro Sette Câmara, esta é, sem dúvida, a melhor introdução à teoria do desejo mimético de René Girard, junto com All About Eve, do grande Joseph L. Mankiewicz. O roteiro é de Tina Fey, possivelmente a única democrata com quem gostaria de tomar um café-da-manhã.
Grato pelas dicas caro Martim. Poucos comentam cinema como você. De quando em vez, certo crítico cultural do “Estadão” faz uns comentários como esse seu, mas lá, falta a noção de transcêndia que se vê nos teus textos.
A questão, fora desta Dicta _ e destes nobres homens que a fazem_ é que não se comenta nada com o intuito de se formar “homens de cultura”, mas tão somente “homens que aproveitam o fim de semana”.
Assisti, ontem, ao “novo filme do Batman”. Que grata surpresa!
E, Martin, você não acha que, ao lado de Hobbes e Aristóteles, o filme passa pela discussão do imperativo categórico kantiano como fundamento da moral? A cena das barcas – ainda que ceda ao “politicamente correto” – provoca naquele que está assistindo uma dúvida cruel sobre onde fundamentar a decisão moral de cada ato seu. Concorda?
Pois eu fiquei com a impressão de que o Batmã era o próprio bode expiatório…