Desde o final dos anos 90 venho lendo sobre ‘pós-modernidade’ e ‘pós-modernismo’, em filosofia e literatura. De lá para cá, muita coisa mudou. Há muito tempo, li White Noise de Don DeLillo, uma obra paradigmática, que foi escrita nos anos 80; nessa época não havia nem Internet. A fixação de DeLillo com a televisão parece hoje algo infantil diante das novas tecnologias, como aliás sugere Alan Kirby.
Talvez a causa disso seja o encantamento dos escritores chamados pós-modernos com algo que, com tempo, ficou banal. Inclusive a auto-ironia.
Em filosofia, já virou chavão a declação da sua morte. E é um argumento recorrente que “os autores contemporâneos não se preocupam com o tema da verdade, do bem e da beleza”. Outra ironia: os autores contemporâneos declaram que os autores contemporâneos decretaram a morte da filosofia. Esse procedimento recursivo não diz nada sobre o objeto da filosofia, que não é nada democrático. Se digo que há uma flor no alto de uma montanha – ou que há um clipe da banda The Killers passando neste momento na MTV – e outra pessoa diz que não, um de nós está errado. Nossas afirmações não influenciam sequer o acidente “tempo” ou “lugar” ou “relação” de uma substância.
Parece-me que a morte do pensiero debole virá, sim, em breve. É que já perderam contato com a idéia do que é pensar (não é fluxo de consciência ou associação livre de idéias). Mas enquanto houver uma pessoa séria questionando as coisas, a filosofia será importante – e, melhor, será uma prova de que o princípio da democracia não vale para ela.
Será que chegou a hora de ironizar o pós-modernismo?
Por que não?! Aliás, estava na hora de ironizarmos um pouco esses conceitos todos… isso atrapalha minhas aulas de
literatura!
Já está mais que na hora! O pós-modernismo é um saco e atrapalha não só as aulas de literatura que eu poderia dar, mas todas as minhas reflexões (e meus desejos de reflexão) sobre o tema. O aleatório no pós-modernismo é bem calculado e parece remeter sempre a um condicionamento circular que impede o pensamento e sufoca a esperança de se chegar a algum lugar. E o pior é que isso é feito com a maior desfaçatez, como se fosse maravilhoso andar a esmo. O sujeito sequer sofre com a terrível condição humana que descreve. Fala do mito de Sísifo com um sorriso nos lábios, pensando no chope que vai tomar com os colegas depois. Como se aquilo não tivesse nada a ver com a própria vida. E não tem mesmo.
Alguém precisa reintegrar à vida o pensamento acadêmico sobre a literatura.