Matt Stone e Trey Parker, criadores do South Park, acabam de lançar um musical na Broadway; e o alvo de seus ataques – sim, você acertou – é a religião. Mais especificamente a religião Mórmon (convenhamos, um alvo fácil), que representa para eles a religião doutrinária e institucional por excelência. Dois missionários mórmons vão para Uganda, onde têm que lidar com a epidemia de AIDS, senhores da guerra sanguinários, mutilação feminina e mais um monte de atrocidades. A moral da história, que os dois caracterizaram como “uma carta de amor de dois ateus à religião”, não podia ser mais previsível ou menos profunda. Kevin Smith a resumiu aptamente, falando de seu filme Dogma (o qual assisti quando era ateu e nem por isso vi graça alguma), que partilha da mesma mensagem: “Faith good; religion not so good.” Ou seja, a espiritualidade é positiva quando não passa de sentimentos adocicados e um desejo vago de fraternidade universal; quando vira uma religião com crenças específicas, daí é ridícula ou, pior ainda, má.
Muito bonitinho no papel; mas, como bem aponta David Brooks em sua resenha do musical para o New York Times, falso no mundo real. Na prática, os grandes feitos e os atos que fazem a diferença vêm de pessoas com religiões de verdade (doutrinas, dogmas, pecado, inferno; a coisa toda) e não nobres sentimentos filantrópicos.