Não é fácil identificar a causa, ou as causas, de um fenômeno que se dá fora de ambientes controlados. Os melhores médicos creram, por séculos, que a sangria ajudava na cura de seus pacientes quando na verdade ela era nociva. Curas ocorriam, mas ninguém sabia o verdadeiro porquê.
Parece-me que estamos na mesma situação, hoje em dia, com relação à educação. Certas crianças aprendem melhor do que as outras; certos países têm ensino melhor do que outros. Não há grandes mistérios em se medir isso: bastam provas e testes padronizados. O problema está na hora de explicar as diferenças. Intelectuais, professores e políticos todos têm a sua teoria sobre como melhorar o ensino.
Medir a qualidade do ensino em diversos quesitos é algo relativamente simples, embora diferentes métodos possam ser desenvolvidos e diferentes aptidões analisadas. Há provas uniformizadas que dão uma boa ideia do estado da educação de determinado lugar. Um desses exames padronizados e aplicado mundialmente é o PISA. E desde que o PISA começou a ser aplicado, em 2000, um fato chamou a atenção: dentre os países ocidentais, quem ocupava o primeiro lugar, disparado, era a Finlândia. Isso vale até hoje. Embora tenha ficado atrás de Shanghai em todas as provas, a Finlândia continua muito a frente de qualquer outra nação ocidental, inclusive das escandinavas Noruega e Suécia, cuja nota é medíocre em comparação e que sempre servem de parâmetro uns para os outros.
Os exames do PISA são sérios (aqui o artigo da Wikipedia com os rankings do PISA 2009); não se trata de fraude ou manipulação. Palmas, portanto, para a Finlândia. Mas a que, especificamente, se deve esse desempenho inesperado?
O candidato mais óbvio é o Ministério de Educação finlandês, que já vem de fato colhendo esses louros há vários anos. Ele vem recebendo visitas de comissões de vários países para expor e mostrar as conquistas do sistema de ensino finlandês; e vários autores têm tirado suas conclusões sobre o que é que dá à Finlândia esse diferencial. Segundo a recente reportagem do The Atlantic, o segredo da Finlândia é que ela, ao contrário dos EUA, valoriza a igualdade e não a excelência. Não existem escolas privadas; não existe um sistema de cobrança e avaliação das escolas; não se premia as escolas com melhor desempenho. “Accountability is something that is left when responsibility has been subtracted.”
A tese é polêmica. Mas ao invés de considerá-la, quero levantar um outro ponto. Desde 2006 a amostra de países do PISA foi aumentada, incluindo diversos países em desenvolvimento. Um deles foi a Estônia. E desde então ela também passou a ocupar as posições mais altas no PISA dentre as nações ocidentais (nunca tão boas quanto as da Finlândia, mas ainda assim acima de Noruega, Suécia, Alemanha).
Há um fator em comum entre Finlândia e Estônia: as línguas de ambos os países não pertencem ao ramo indo-europeu comum a quase toda a Europa, mas ao ramo fino-úgrico; e são muito parecidas entre si. Poderia a língua explicar o desempenho educacional? A tese ainda parece duvidosa, mas considerem o seguinte: dentro da Finlândia há uma minoria de falantes do sueco. Essa minoria é, em média, mais rica do que a de falantes do finlandês. No entanto, as notas dela no PISA são muito inferiores às deles. A tese do papel da língua na educação finlandesa é exposta neste breve artigo de Taksin Nuoret.
Talvez o melhor para nossa educação seja abandonar de vez o ENEM (que ainda não escolheu se vai priorizar a igualdade ou a excelência) e implementar o ensino universal do finlandês.
Certa vez aquele Gilberto Dimenstein falou algo interessante sobre aquela de os judeus serem o povo que de longe mais ganhou Nobel: Eles são educados sempre em, no mínimo, dois idiomas com estruturas bem diferentes. Imagine uma criança ser educada em uma língua que se lê da esquerda pra direita e outra que se lê da direita pra esquerda.
Esse é o caso da Finlândia, suponho. Eles têm como língua-mãe algo totalmente diferente dos outros idiomas que aprendem ao mesmo tempo, o inglês e alguma escandinava.
Também pode ser o caso dos chineses, cuja escrita tenta desenhar o signo linguístico e muitas palavras se distinguem pelo tom.
Por isso tentarei educar meus filhos com o ensino óbvio do inglês e mais outras línguas interessantes, como o hebraico, coreano e mandarim. Será que terei sucesso?
um bom “efeito” muitas vem de muitas “causas”,muito simplista ter apenas o idioma,penso em algo multicausal, sem contar o abandono da educação, parecendo até uma conspiração para idiotizar o povo
O segredo é bem mais simples. O professor Pierluigi Piazzi indentificou como o velho método de assistir aula e logo após estudar. Nada mais, nada menos que o Ratio Studiorum jesuíta.